sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

SUTILMENTE SÓ



Amarras
amores de uma vida
choro
vidas repartidas
braços solitários
abraços
imaginários
silêncio
lágrimas em vão
fotografias rasgadas
sonhos
e minha solidão

VOANDO NOS SONHOS

E o menino fechou os olhos
e estendeu a mão para seu amigo.

O dragão segurou-a firme e subiram
no livro.

Foi assim que a história começou.

REFLEXO DO CÉU





E, por entre as árvores, ela vislumbrou as águas;
nelas, o reflexo do entardecer, quando os
olhos do céu fecham-se para adormecer...






                                                                                    Foto: Alício Assunção

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

ROMPER DA ESCURIDÃO

Outubro
é meu coração
quando teu temperamento
tempestuoso,
arrasta-me para o verão

Novembro
expande minha alma
quando 
em tua boca
o sol arde

Interrompe-me
como luz 
como farol
rompe 
a escuridão

Outubro
conto as horas
como as ondas
embalam as pedras
sem nunca cansar

Outubro
quero ficar
ter tuas águas
me afogar
a cada vez que a maré  exaltar


Outubro
Puerto rico,
destino
dos meus sorrisos
anseiam por teu  lascivo

Outubro
mês por mês
espero-te
contando as horas
em fases, da lua

Outubro
espartano sofrimento
leva-me para aquele momento
que o sol cede
e a lua, nada impede


Outubro
chuva e alívio
de meus excessos

Outubro
sem recessos
de amores, possessos

domingo, 26 de janeiro de 2014

FUGA DO TEU OLHAR

      Fujo
desgovernada
      dos teus olhos sombrios
riem
      água que voa
decepa
      a virgem mente
olhos de algoz
      sentem o cheiro
do medo
      de mim
fujo
      sem rumo
fujo
      sem luz
apenas som
      e suores
esquivo
      escondo
giro sobre meus pés
      a poeira me leva
sou pó
      sinto-me só
fujo
      mas quero ficar
e em tuas asas
      voar

LÓTUS

Plumas flutuam
rodopios na névoa
dança das águas
sons de sereias
mantras antigos
civilizações escassas
espíritos sem corpos
preces e pedidos
voam corações
lua em flor
sol sem cor
tilintar de bambus
gotas no telhado
pétalas fechadas
da lótus em botão
transmutar do ser
da vida e do vão
encontra o sentido
caminho da transformação

sábado, 25 de janeiro de 2014

COMO UVAS

Seduz-me
como as uvas maduras
arrancadas do cacho
desprendem o sumo
mastigadas, o sabor

Amasso teus lábios
rosados,
desenhados com meu fervor
atiçados em pecado

Não te dou chance de defesa
e, como que sobremesa
devoro-te
em meus secretos sonhos

Na tua pele alva
meu suor escorre
como orvalho no grão
esmagado sem perdão

Declino na nuca
desenho o chão
onde rola meu grão
e alcanço as suaves montanhas

Macia e da cor da lua
teus cabelos longos
da cor do melado
cheiram a doce queimado

Cobrem tua nudez
para que meus olhos não tenham vez
sofro, em minha altivez
com um cio siamês

Seduz-me
sem nada dizer
inebria-me, ainda uva
devoro-te, em cachos
sem nunca saciar-me

Teu sumo me amolenga
teu calor me derrete
lambuza-me com doçura
e torno-me o barril

Da minha casca
solto a acidez
que em ti, madurez
e juntos, bebemos o vinho
que de nós se fez


sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

QUERIA


Queria
descrever-te em palavras
queria
desenhar-te à perfeição dos meus sonhos
queria
sussurrar-te, ao som de harpas
queria
flutuar em ti como nuvens no céu
mas tenho-te, apenas,
em meu amargurado coração
sem palavras doces
do formas toscas
com sons de lamentos
com tempestades gris
queria
querer-te
queria
tocar o arco-íris, e prendê-lo
como prendo teu amor
queria
beber-te
como quem bebe água chuva
queria
penetrar nos teus sonhos
e sufocar-te
como tu me sufocas a alma

FERRUGEM DO TEMPO



A chave
tranca e solta
a fechadura
obedece
a chave perde-se
a fechadura
se esquece
passa o tempo
vem o reencontro
porém,
a chave não serve
renegou-a a fechadura
que magoada
enferrujou-se
e pelo tempo
apaixonou-se

O CARVALHO E A ORQUÍDEA


Afogo
sem água
sufoco
ao vento
estremeço
ao fogo
abraço-te, e sinto
és tão pequena
cabe toda dentro de meu peito
meus lábios
tem pressa, pelos teus
meus olhos procuram
teu fervor de vinho doce
és pérola
suave e macia
e minhas mãos agracias
tosco, como tronco
sou o carvalho
e tu, a orquídea
leva-me ao céu
no inverno das manhãs
traz-me o sol
nas noite sem estrelas
e apesar de pequena,
tem a força da maré
que estoura e molda rochedos
afogo
em teus braços
sufoco
em teus lábios
e quando acaba
ainda assim,
quero-te
sem fim        
                                                                     

DE TI, SEM MIM


Ata-me
com teus fios
enrosca-me
com teus brios
tece-me
com teus dedos
e umedece-me
com teus lábios
levo tuas essências
teu sabor alcalino
de ti, para outra
melhor seria
queimar ao fogo
do que ser o fogo teu
que apaga o meu
nas mãos d'outra


quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

FLOR AO VENTO


E o vento sussurrou às flores
que elas deveriam se calar
para que apenas ele pudesse cantar
os anjos desceram do céu
e prenderam o vento num pote
seria o seu castigo
nunca mais poder beijar as flores
arrependido
por não ter mais seus amores
ele pediu clemência
os anjos, bondosos, o libertaram
mas com a condição
de que jamais,
jamais deveria querer ser mais do que era
liberto,
ele deitou sobre a s flores
libertando suas vozes
ao tempo

ESPERA






Sentei-me ali
a esperá-lo
o perfume das flores
permeia o ar
borboletas dançam
de lá para cá
e eu
continuo a esperar

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

SABOR ROUBADO




Preparei um chá
com pétalas  de hortênsias
brancas e rosas
e algumas, amarelas

despejei água
sem piedade, sobre elas
queimei-as,
pobre pétalas

Odeiam-me agora,
mesmo que ainda em cor
porque delas
roubei seu sabor

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

FALHAS


Um som
um suspiro ao vento
um arrepio
um lamento

Onde estás?
meu alento
porque tanto sofrimento
em honra ao tormento?

Segura minhas mãos
Vês? estão frias
gelado, é teu coração
que não tem estrias

É liso e oco
sem reboco
nada prende
tudo esfria

Toca meus lábios
talvez assim
sinta meu ardor
és vazio, meu amor

Terás que aprender
antes que seja tarde
a vida passa
e talvez acabe

O que terias então
senão, apenas solidão?
melhor vir comigo
e ter um abrigo

Ao meu lado
o vento sopra
o som uiva
o gelo derrete

Toma minha mão
bebe dos meus lábios
escuta meu coração
e te aquece, em meu abraço

sábado, 18 de janeiro de 2014

AMARGOR DE AMOR, para Narciso

Da janela
vi teu último olhar
em meu coração
acabou-se o mar
Da janela
não ouviste meu lamento
que de mim
explode como bomba
Venha, volte!
imploro
Não vê minhas lágrimas?
Sangro
fel de amargor
que dilacera meus olhos
Ficaram cegos
sem tua luz
Tento abrir a janela
e a explosão é mais forte
o vidro estoura
O som de minha voz
voa para fora
embalado pelo vento
Mas perde-se na escuridão
quando o uivo da tua dor
o afugenta
Olho,
procuro,
nada encontro
A escuridão cede
e o sol se ergue
Nada encontro
além de mim
Sou quem roubou-te o riso
flutuo, 
no avesso do paraíso
Negror
que para longe quer te levar
Minha alma arrebenta-se
contra as rochas
do mar de cinzas
que me sufoca
Ergo-me delas
grito, a plenos pulmões
Narciso!
A bomba te alcança
e do buraco da janela
vejo teu sorriso
é quando volto a sonhar
com o avesso do paraíso

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

POUCO

 
Há tanto dentro do pouco

e, não necessariamente, há respostas

para todas as perguntas

CONFUSÃO



As coisas
se fundem
e se confundem
Quem sou eu?
Quem és tu?
Sequências imiscíveis
Essências incompatíveis
Confusão,
dizem, é amor

SEGREDOS


Toco as teclas
e desvendo teus segredos
nas palavras gravadas
sussurradas pelos dedos

Tenho eu, meus segredos
guardados a sete chaves
porém, basta um beijo teu
e todas elas se abrem

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

RESTRITO INFINITO


O que é o infinito
para um poeta indefinido?
O não dito
torna-se finito
quando escrito
O poeta
vê o trem partir
levando consigo
seu restrito infinito
descrito em negrito
Mais feliz é o músico
que é apenas ouvido
eu, pobre poeta
sofro arrependido
de ter revelado
meu secreto infinito

SONHOS POÉTICOS


Poetar
é por os pés no mar
e sonhos inventar
caminhos trilhar
Poetar é um não estar
um desapegar
da palavra
do som
do significado
do sentimento
Poetar
é deixar partir
é odiar
por ser esquecido
na gaveta do embutido
Poetar
é não pensar
Poetar
é apenas
sentir

PALAVRAS E INFRUTESCÊNCIAS



De mim se apodera
faz-me flor
figueira e dor

Dissemina em mim
suas infrutescências
e também, suas carências

Salpica suas sementes
e seus perfumes
mel, fel, amor e ciúmes

Separa-me em gomos
extrai meu sumo
mistura em resumos

Não sou o poeta nem a poetiza
sou apenas a palavra
que tua mão eterniza

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

ROSAS



A chuva trouxe consigo
o perfume dela
gotículas esfumaçadas
tocam meu rosto
quando ergo-o para o céu
e vislumbro o sol, a sorrir
É quente
verão escaldante
que a chuva acalma,
mas meu coração ainda queima
e espera por ela
Seu perfume fora semeado em mim
por seus lábios macios
e rosas brotam de minha boca
quando digo seu nome
Sonho
em beijá-la mais uma vez
tê-la
em meus braços
até o dia nascer
Por hora, apenas a espero
agarrado à sua lembrança
com cheiro de rosas...

"Son parfun a éte semé en mai par ses lévres douces... et les roses der printemps de ma bouche quand jê dis ton nom..."

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

INVERNO GRIS



Veio o outono
com seus dourados
as folhas secas
ocre estavam
Mas nos teus olhos
encontrei calor
como o vento
que procura a flor
Gris
meu inverno chegou
e o outono sufocou
fiquei com a folha
seca, ocre
Uma lembrança
de que antes
antes do frio
da neve
e do adeus
houve uma primavera
Estações vem e vão
como nosso amor
igual a chuva de verão
molha o chão quente
e evapora em névoas
como semente
que luta contra a força da terra
para germinar
E eu,
luto contra o medo
que de mim,
quer te levar

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

ENTRE MIM


Há algo entre mim
entre xícaras, flores e livros
como um zum zum de abelhas
um ronronar de gato
uma arranhar, ferino
nada brando
nada feroz
mas tudo intenso
Há algo em mim
que te repele, fere
há algo em mim
que te faz continuar ao meu lado
arranhado
esfolado
amassado e
picado
há algo em mim
entre minhas páginas
e lágrimas
que te preenche

SONHE


Sonhe,
e sonhe de novo
até sua mente enevoar-se
sonhe,
em todas as cores
até na ausência do que sonhar
Sonhos
são momentos mágicos
que na mente,
encontram um campo fértil
sonhe,
sonhe acordado
até cair sentado e, talvez
debaixo da pedra
encontrar o germinar do sonho
Enquanto sonhar
a vida irá te acompanhar
como ramos de hera,
de glicínias,
de mãos de névoa
como a gota que rola sobre a folha
apenas para provar que se sustenta
Sonhe,
como a criança
sem elos, com este ou aquele mundo
sonhe como os gatos
vibre!
Sonhe,
como se a vida fosse um livro
um violino
um pincel
um palco
Sonhe
e descubra sua luz,
sua força
Ela está nas sementes que você carrega
dentro do seu coração

domingo, 12 de janeiro de 2014

SONHOS


Ali, depois da curva
está o sonho
ele brilha, em fagulhas douradas...
Corra! Ele costuma esconder-se, tímido
por detrás do muro verde
que se estende até as terras sem fim...
Poucos o alcançam antes disso
Há de se ter coragem ousadia e loucura,
muito mais do que tática, teoria ou brandura...
Corra!
Abra os braços e grite: Ei! Não vá!
E talvez, assim,
o sonho o acolha
e juntos,
se tornarão o sol

DOR, NO TEU OLHAR



E,
naquele olhar,
eu vi a fome
sugar seu ser
florescer de seu coração
em amargas notas de dor...

PALAVRAS NO SILÊNCIO


Mil destinos para descobrir
no silêncio do ser
mil vidas para amar
no silêncio do estar
uma palavra
que vale por mil
vinda de longe
de mil formas recebida
em apenas um coração
que bom é ter você
um entre mil
do outro lado do mundo
preso ao meu coração

CARTA DE AMOR


Palavras escritas com lágrimas
hera que recobre paredes
chá de rosas
num jardim de pedras

Frutas doces
saboreadas nos teus lábios
livro aberto
esquecido ao relento

Sorriso torto
olhar anil
mistérios sem cofre
portas para o céu

Borboletas de veludo
chuva sob o sol
caminhos nunca percorridos
néctar que flui

Pássaro que voa livre
árvores que se abraçam
raízes que perfuram
brotos que despontam

Flores que explodem
vida em cor
perfume que inebria
mão que acaricia

Cheiro de jasmim
musgo macio
espelho sem reflexo
folhas sem orvalho

Taça de pétalas
mel de abelhas
flor de laranjeira
espinhos de amor

sábado, 11 de janeiro de 2014

APENAS UM

Fecho meus olhos
e sinto o fio dos sussurros
deslizando sobre minha pele
Abro-os, e vejo cores sem fim
que resplandecem da aurora dos teus olhos
E dos meus, flui amor líquido
que escorre para a fenda da vida
Abro-os e chamo por ti
e logo mergulho na plenitude do teu ser
conduzida por teus lábios
e voo na suavidade das nuvens
embalada por teus braços protetores
Sonho na realidade e vejo na escuridão
Canto em cores
e respiro o céu
Fecho novamente meus olhos
e vislumbro a luz
translúcida essência
transformando-se em um único ser quando,
enfim,
nosso amor desabrocha
tocado pelos primeiros raios de sol
E tudo em nós é som, cor e sabor
no amor, para sempre,
somos apenas um...

Publicado no Caderno Literário Pragmatha - edição 43
Ebook Maturidade Editora Pragmatha

UM DIA QUALQUER


Um dia qualquer
escuto o vento, intocável
dança em meio às flores
mistura suas cores
rouba-lhes o pólen
um dia qualquer
o vento levou-te
naquela carta escrita
às pressas
avesso às palavras não ditas
um dia qualquer
o vento levou-te
e o amor, ficou esquecido
num diário escondido
um dia qualquer
o vento revelou suas páginas
o segredo em símbolos esferográficos
leu-te
leu-me
e bagunçou nossas flores
tocou o intocável
misturou as cores
roubou nossas distâncias
um dia qualquer
o vento lançou o pólen
salpicou nossos estigmas
a esmo
a termo
um dia qualquer
o vento
soprou, polinizou
um dia qualquer
o vento construiu pontes
invisíveis
um dia qualquer
o vento
amou

Publicado no Caderno Literário Pragmatha - edição 52

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

AMAR É ODIAR


Sim,
eu te amo
assim como
te odeio
duas partes de mim
imiscíveis
porém
inseparáveis
Dou-te minha polpa
tenra e macia
e tu,
se faz casca
áspera e dura
Quero ir, sem ti
queres que eu fique
apenas para teu capricho
Engana-te,
se pensas que me prende
Sem polpa
o fruto torna-se seco
sem cor
sem sabor
Por isso te odeio
minha polpa, sem tua casca
apodreceria
Melhor então
te amar um pouco
juntos, sei bem,
semeamos vida

A TE ESPERAR


Ali
na borda da escada
sentei-me a te esperar
Abri o diário
e nele escrevi
teu som
tua cor
teu cheiro
e teu riso
Ocultei tuas lágrimas,
guardei-as apenas para mim
no frasco do meu coração
Para ti,
dou apenas a essência diluída
amor
paixão
e doces ilusões
Ainda te espero
sob o sol
e o luar,
na companhia das lavandas

TILINTAR DA CHUVA


Salpiquei o chão
com doces beijos brandos
borrei o céu com minhas lágrimas
perfumei o ar com meu sorriso
exaltei em cores
abri-me em raios dourados
e ocultei-me em luas
então tu vieste
e meu coração voltou a bater
no tilintar da chuva

PERDIDA


"Se poetar é perder tempo, eu quero continuar perdida."

TOCAR


Meus dedos tocam as teclas do piano
É como tocar seu cabelos,
prateados
A elevação das notas,
agonia em som
São meus sussurros ao te imaginar
Um tom
Anoto tudo,
toque, som, sofrimento
Em um papel cor de rosas,
tua cor, ao meu sabor
Mas tenho medo de selar a carta
e enclausurar nosso amor,
assim como tenho medo de parar a melodia
e não ouvir mais a tua voz,
não sentir mais a tua pele
Seda sobre aço,
dos meus abraços
Toco mais fundo
mais forte
mais frênico
e o som atinge o céu
destrói a lua
e entristece o sol
sem brilho, ele chora
chuva de rosas
sobre meu corpo
sobre o teu
Silencioso
o piano,
ninguém esqueceu

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

MEU AMOR POR ELA

Saltito sobre minhas patas
O coração pulsa na cauda
Meus pelos se eriçam
Em meu nariz, um mundo habita

Fico parado em frente a porta
Igual ao cara lá do jardim
Espero. Procuro vê-la
Não vejo a hora de lambê-la!

O carro estaciona
Ela salta
Eu fico mudo
Ela grita!
Eu pulo!

Ela me beija
Eu a lambo
Ela ri
Eu lato

Minha cauda agita
Ela saltita
Eu sorrio
Ela me abraça

Nessa hora
Não quero ter patas
Queria ter mãos
Iguais as dela, que afagam meu coração

Publicado no Caderno Literário Pragmatha - edição 45
Homenagem aos animais de estimação - ao meu Marley

FELINO LAÇO

Adornei-o,
para meu bel prazer
E ele?
desprezou-me, sem piedade
miou
e enrugou o focinho,
entediado
Foi tirar o laço
que iniciou-se o ronronado
Ah! Que faria eu
sem teus humores felinos...

LÁGRIMA SILENCIOSA

O tempo
amarelou o papel
que amorosamente,
enviaste a mim
neles, teus desejos
em forma de poesia

Minhas lágrimas
borram a tinta
tuas mãos
não tocam mais as minhas
teus lábios,
silenciaram-se
até mesmo teu rosto
se apaga
nas fotos em preto e branco

Só o que não se esvai
é a dor
por não estar contigo

MULHER DE RENDA

Vesti-me em rendas
apenas para ti
esperei,
sob os raios do sol
e as luzes da lua
apenas para te dar o melhor de mim,
mas hoje
não te espero mais
Rasguei as rendas da submissão
apaguei as luzes da ilusão
e segui,
apenas em minha doce companhia

MELODIA

Partituras de mim
rosas carmim
rendas desfiadas
folhas rasgadas
partituras esquecidas
no fundo da gaveta
melodia secreta
da alma perdida

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

LANÇAMENTO LIVRO




Lançamento livro: 
CONTOS DE SOM E SILÊNCIO - Histórias inspiradas em letras de músicas - wwlivros 

Aconteceu dia 09/11/2013 no FAROL - Observatório de Arte em Porto Alegre - RS

Livro coletivo no qual participei ao lado de mais onze escritores brasileiros, com o conto 'DEU PRA TI" , inspirado na canção "Deu pra ti" dos compositores brasileiros Kleiton e Kledir Ramil.                     





"O ingresso entre as mãos era a prova
de que tudo havia sido real. Ele fizera
mesmo aquilo, ela pensou, dobrando
e enfiando com cuidado o papel,
já um pouco amassado e rasgado,
no bolso de trás da calça jeans.
Ergueu os olhos a tempo de vê-lo
aproximar-se sorrindo."

ENCANTO


E quando a voz ganha o ar
as palavras se fazem encantar

POTE DE PÉTALAS

Hoje comprei um pote
guardei nele o amor em pétalas

É pesado demais
para ser carregado por inteiro

É denso demais
para engolir de uma só vez

Assim, em pétalas
posso dosar o impacto

Porém, não saberei
em qual delas ficou teu coração

Devo então
tomar com cuidado

E não deixar o pote destapado
há corações que voam...

FLOR DE LARANJEIRA

No meio do laranjal
tendo as abelhas como testemunhas
ele a beijou
e o céu, abriu-se
sinos tilintaram
e seus vulcões internos
eclodiram com força

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

AMOR DE PAPEL

A brisa
suavizava as lágrimas ardentes
o sol aquecia as mãos trêmulas e frias
e o balanço da rede envolvia seu corpo
numa dança de amor

Jamais veria seu rosto
jamais o teria em seus braços
jamais sentiria o sabor de seus lábios

Ele não existia em seu mundo
naquele instante
ela desejou ser como ele
feito de palavras e tinta